domingo, outubro 16, 2005

Domingo de Ilusões


É domingo... Ela acorda e pensa estar na cama em que dormiu até pouco tempo atrás... Era a casa em que crescera... teve a nítida sensação de que sua mãe dormia no quarto ao lado... e aos domingos ela sempre acordava antes da mãe; batia a sua porta e deitava na cama larga, com colchões de mola... Era o momento em que deitava ao lado de sua provedora e segurava sua mão e, muitas vezes, contava como tinha sido a noite de sábado... depois, juntas preparavam o café da manhã, arrumavam a mesa, conversavam mais do que se alimentavam... Ela nunca queria levantar da mesa, mas sua mãe sempre insistia para arrumar o quarto e ajudá-la na cozinha... Tudo isso passou pela mente dela, enquanto dava-se conta de que não estava em sua antiga casa... Era domingo sim, mas ela estava sozinha, não existia nenhum outro quarto além do seu; existia sim uma cama larga e de molas, mas não era a da sua mãe, era a sua própria, ao seu lado não havia ninguém, nem mesmo o calor ou as mãos de sua mãe... Percebendo isto, não quis abrir os olhos, não quis acordar... Forçava um sono que não vinha... era domingo, não havia a casa das amigas de sempre para ir.... não havia a chegada de um parente a sua casa; não havia a voz e passos do sobrinho que sempre a visitava nesses dias... Nem mesmo o irmão, que a cumprimentada de “longe”, mas que, de certa forma, lhe dava a certeza de estar lá.
Durante as últimas duas semanas ela tinha vivido um sonho encantado, acreditava ter encontrado o seu príncipe que a colocaria em seu cavalo alado e a levaria a viver os mais belos sonhos de amor, e que nunca a deixaria sozinha como ela estava agora... Olhou para o celular, nenhuma mensagem; verificou os e-mails, do mesmo jeito... “Onde estaria ele?” pensou ela enquanto relia as palavras doces que recebera dele há pouco dias... porém nestes mesmo últimos dias ela não o encontrava mais...Olha para a foto dele e tenta imaginar o por que dele querer que ela sofra tanto... Tantas vezes ela lhe jurou jamais faze-lo sofrer, tantas agora ele a faz penar com sua ausência, não só física, mas em pensamentos, em palavras... Ela não sentia mais a sincronia dos seus pensamentos, nem recebia mais as palavras que a faziam sonhar durante dias...
Tanto era o peso da dor naquele dia, que ela resolveu ir caminhar... Caminhou tanto no sol que ardia sua pele, que chegou a um bosque... Há anos ela não passava por lá... Sentiu o frescor que as arvores dali lhe causava, era uma brisa fria, gostosa, tranqüila... Observou os animais que ali viviam... Havia muitas famílias que passeavam por lá também, mas ela, ela estava só... A única certeza que tinha era que realmente ela deveria ser muito forte, pois conseguiria chegar ali, sozinha, satisfeita... Deixou o chafariz molhar seu rosto, sentiu o frescor da natureza “crua”, sentou-se no banco, e mais uma vez milhares de pensamentos invadiram sua mente... Angustiada, olhou para o céu e viu os pássaros nos galhos... lembrou-se que um dia havia desejado ser um deles, agora queria novamente...queria voar, ou flutuar como uma pena no vento...simplesmente não suportava a idéia de ter vivido uma ilusão...ela acreditou no amor dele; sendo assim deu-lhe o que nunca havia dado a ninguém, e ainda que ele não tivesse dado amor igual ao dela, o que não entendia era o fato dele faze-la sofrer tanto....e quantas vezes ela dizia isto ele :”por favor, eu te aceito nas condições em que estás porque eu te amo, mas não me faças sofrer...” lembra ainda da resposta dele: “acredite em mim, jamais será amada como eu te amo, te farei a mulher mais feliz e mais amada do mundo!” Naquele fatídico domingo, e por ironia do destino ela se sentia a mulher mais sozinha, mais triste e menos amada do mundo...” Doía-lhe mais pensar que além disso ela o amava tanto, como nunca houvera sido, mas ainda assim não recebera metade do que dera.... Não conseguia chorar, mas ela já sabia que não o faria, pois nos momento de maior angustia e tristeza, ela não conseguia chorar, apenas ofegava, mas quem a olhava, mesmo que não a conhecesse, percebia que seus olhos azuis mais pareciam duas bolas transparentes, ninguém conseguia perceber o seu brilho, eram foscos, tristes mesmo...
Retornou da caminhada, ainda tinha esperanças que ele pudesse lhe fazer uma surpresa, que estivesse em frente a sua casa esperando-a... Cruzou a última esquina, mas a rua estava vazia... ”ele pode não ter vindo de carro”- imagina. “Pode estar lá dentro esperando!”, decepciona-se mais uma vez, estava tudo vazio... Abre a porta de sua casa, na mesa encontra uns versos que havia guardado para ele:
“Cada dia que passa, e não te vejo, fico com um imenso desejo de criar asas e voar até ti para poder roubar um beijo e assim, dormir. Mas como isso não posso fazer, tenho que me contentar com o simples fato de apenas querer, mas que, um dia, vou poder ter tudo que eu sempre amei, você! Agora sou uma prisioneira do amor, enjaulada numa casa pequena, sozinha e serena, vendo o sol nascendo quadrado por meu coração estar apertado com saudades de ti. Estou enjaulada numa casa, que por uns momentos eu quis, mas que agora a esqueço e penso que presa nessa casa e sem você nunca serei feliz!”

Naquele domingo, naquele momento, e ao ler tais versos, sente o peso de sua ilusão perdida, a sensação de ter a certeza de que ele nunca a amara, ou não soubera amá-la... Lembrou-se de uma musica e, pela primeira vez, viu-se nela:
“Como um leve papel solto à mercê do vento; cinza de um corpo esvaído de qualquer sentido. Acordo, e o poema-miragem se desfaz desconstruído como se nunca houvera sido”.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

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1:30 PM  
Anonymous Anônimo said...

Nossa, amiga...que coisa mais triste e mais linda...adorei. Acho que você conseguiu transmitir exatamente tudo. Quase deu para vê-la tamanhas foram as descrições.

Pena que é realidade....

2:24 PM  

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