domingo, outubro 23, 2005

A hora de partir



Pensa que sempre adia a hora de "partir"... Já havia andado pelo mundo, já havia experimentado sabores e “desabores”... achava ter encontrado um lugar onde pudesse ser livre. Pensava em liberdade como uma sensação de expressão de amor sem limites... Jamais houvera mostrado seu amor. Tinha gostado de ser ela mesma. Lembrou-se de uma das suas autoras prediletas, Lispector: "se meus amigos conhecessem quem eu realmente sou, sairiam correndo". Havia aprendido a amar, estava pronta para amar, mas ele não... Havia feito tudo que jamais havia feito por ninguém; ela deu o que tinha; respirou por ele e por ela... mas ele não estava pronto para amar...
Na verdade naquele momento ela queria "sair correndo", "conheceu-se" mas assustou-se com a sua própria capacidade de amar...Tais pensamentos a atormentavam na hora de decidir sua "partida"... Conheceu o "céu do amor" muito rapidamente e em pouco tempo. Conheceu as trevas também, além do "deserto" de amar sozinha... Sim, conheceu a solidão que tantas pessoas comentavam, a solidão na multidão, ou solidão a dois.... Caminhou em ritmo descompassado; acelerou e correu demais, tão rápida e tão decidida que quando olhou para trás não o viu mais. Voltou, foi buscá-lo, carregou-o em seus braços fracos, porém corajosos como sempre foram... continuou correndo pelo caminho desconhecido... derrubou-o algumas vezes, arrastou-se carregando-o sempre. Levantou-se e foi direto a sua procura, e agora não sabia se seguiria pelo caminho que se abria a sua frente ou voltava para resgatá-lo... Sabia que precisava continuar, voltar seria retroceder, ela queria mais.... queria continuar a busca por si mesma. Tudo continuava se movimentando a sua frente, movimentos rápidos, escolhas rápidas, não podia voltar... diversas vezes ele havia soltado suas mãos, mesmo nos momentos de fragilidade; soltara agora, mais uma vez.... exauriu sua força, de tal forma que afetara o seu sentimento, atingindo o seu amor...sim, o sentimento que nutria por ele chamado amor, sucumbia... já não tinha raiva, nem rancor pelas atitudes dele, mas também já não tinha mais saudades... o amor se esvaia, ela sabia, sabia também não ser mais possível resgatá-lo... sentia o coração sangrar, sangrava tanto que quase não havia mais sangue para "bombear" o amor... sim, morria.... morria parte de si... restavam as recordações.... Levantou-se, olhou para trás, viu o "filme" do amor intenso que vivera...sentiu a tristeza de quem enterra um ente querido.... Ela "sepultou o coração", o seu próprio. Olhou para frente, seguiu com a bagagem e as cinzas do coração nas mãos. O que mais lhe doía era a certeza que tinha de que um dia ele leria a “história” que ela havia escrito, mas de uma forma diferente, como se lesse através dos olhos dela. Ali ele veria o quanto ela “caminhou na tempestade por um beijo dele”... “Mas seria tarde demais" refletiu ela.... “o meu amor já se foi perdido, aqui estão as cinzas do que restou, as lembranças... Ele não percebeu "a medida do meu amor", maltratou..."

Vai coração, voa alto...tu já sofreste demais...
Penaste, arriscastes...Tu não cansas??
Embarca naquele barco, aquele que tu já viajastes tantas vezes,
aquele barco chamado saudade...
Deixe-me só coração...já havia te dito que amor do jeito que queres não existe..
Viste?Acreditates neste amor, e agora agoniza...
Tu mandates eu acreditar, acreditei, e agora que faremos coração??
Carrego tuas cinzas, quando irás te recompor??
Deixaste-me sozinha mais uma vez coração...
Tu sabes que entreguei tudo que tinha, fiz tudo que pude,
mesmo assim deixaste-me apenas com tuas cinzas e as lembranças que
atormentam-me por segundo...
Onde vou agora?

Lisa

"Solidão, o silêncio das estrelas, a ilusão...
Eu pensei que tinha o mundo em minhas mãos...
Como um deus que amanheço mortal
E assim, repetindo os mesmos erros, dói em mim
Ver que toda essa procura não tem fim
E o que é que eu procuro afinal?
Um sinal, uma porta pro infinito, o irreal
O que não pode ser dito, afinal
Ser um homem em busca de mais
Afinal, como estrelas que brilham em paz...em paz..."

"É como se a gente não soubesse
Pra que lado foi a vida
Por que tanta solidão
E não é a dor que me entristece
É não ter uma saida
Nem medida na paixão
Foi, o amor se foi perdido
Foi tão distraido
Que nem me avisou
Foi, o amor se foi calado
Tão desesperado
Que me machucou
É como se a gente presentisse
Tudo que o amor não disse
Diz agora essa aflição
E ficou o cheiro pelo ar
Ficou medo de ficar
Vazio demais meu coração
Foi, o amor se foi perdido
Foi tão distraido
Que nem me avisou
Foi, o amor se foi calado
Tão desesperado
Que me maltratou"