domingo, novembro 20, 2005

Corpo dela, corpo dele, corpos deles – “O mundo é um moinho”

Corpos...boca, queixo, olhos.... Olhos que se olham...Olhos que descrevem o que é a boca no queixo, nos lábios...Dois lábios... Os lábios dela no queixo dele...e ele sabe o que é o queixo dele para ela....Ele sabe que segredos ela dizia no ouvido dele...Os beijos na pele dele...e ela suspira, ofega, imagina a volta dele, os beijos dele, os lábios dele....Pele, beijos, queixo, ouvido, lábios, olhos, suspiros, pele, corpo...
Não, não lhe sai da mente a cena.... Ela, pálida, pára o mundo por sua volta agora, neste instante ela pensa, ela quer...ela deseja....Até quando??Até quando sonhará todas as noites com o perfil dele ao teu lado?Até quando dormirás todos os dias lembrando da perfeição do queixo dele? E as noites em claro lembrando dos “instantes”...?aqueles instantes que pareciam para sempre?? Pergunta-se por que existe lembrança...por que a “saudade”... Sempre tivera forças para se entregar ao tempo...E agora era a saudade que lhe invadia com tanta intensidade que tremia-lhe “cada polegada do seu corpo”, do mesmo jeito que era antes...Burla a si mesma, esconde-se atrás do “esquecimento”... Tola...não te lembras que prometestes que seria eterno??Tão tola que insistes em manter tal promessa, mesmo sabendo que não sabes o que há “do outro lado”..?? Finges que levanta, mas estás no chão....Não, não flutuas mais...perdestes tuas asas. Tu te achavas tão “imbatível”... caístes como um pássaro cai do céu, sangrando, com uma flexa no peito...Sim, é assim que te sentes, vais continuar a negar isto?? Sangrando.... Sangras quando te lembras do “céu”, da “tela prateada da ilusão”... Sangras quando te lembras dos olhos dele nos teus, dos lábios dele nos teus... Chore, alivia a alma com o teu pranto... Segura o cálice de vinho que “transborda, cheio e trinca”, cada gole é uma imagem dele a te “observar”... Sabes que ele te “guardava” com os olhos... Sufoca em soluços, mas sabes que a saudade....a saudade é algo que tu tens que te acostumar a conviver... “Dela” tu jamais te livrará... As lembranças ficam contigo, “menina dos filmes românticos”... tu sabes bem qual o fim dos filmes de amor, não sabes?? Não é tão bonito quanto tu esperavas... O fim é ”belo”, sofrido, “vivido”, mas simplesmente é o próprio fim... Acostuma-te...Acalma-te... “O mundo é um moinho”...

"Ainda é cedo amor, mal começaste a conhecer a vida, já anuncias a hora da partida, sem saber mesmo o rumo que irás tomar.
Presta atenção querida, embora eu saiba que estás resolvida, em cada esquina cai um pouco a tua vida, em pouco tempo não serás mais o que és.
Ouça me bem amor, preste atenção, o mundo é um moinho, vai triturar teus sonhos tão mesquinhos, vai reduzir as ilusões à pó.
Presta atenção querida, de cada amor tu herdarás só o cinismo, quando notares estais a beira do abismo, abismo que cavastes com teus pés.
Ainda é cedo amor, mal começastes à conhecer à vida, já ancias a hora de partida, sem saber mesmo o rumo que irás tomar"

sexta-feira, novembro 18, 2005

Bromélia


Sucumbe na solidão da floresta... entre tantas folhas, flores, árvores...Sucumbe...
O que te faz sobreviver Bromélia? Sabe-se que tu és “uma das mais adaptáveis famílias de plantas do mundo, pois apresentam uma impressionante resistência para sobreviver...” Não é assim que te vêem Bromélia?? Forte, resistente??
Tu nasces nas pedras, na aridez das pedras, sobrevives lá... na solidão das pedras...
Bromélia, Bromélia... Até quando te refugiaras nesta imagem de vegetal “empedernido”... Escolheste logo as pedras?? Por quê? Procuras alento na rigidez, na “vida que não existe”... procuras o que já petrificou... o intransponível...
E o que é para ti o “intransponível”? Continuas nesta tua tentativa de mostrar tua beleza àquilo que não te alimenta, que não valoriza a tua beleza...Quieta-te Bromélia, quieta-te... Tu não és lírio, nem Liz... Tu és mesmo como os seres vis...
Lembra-te que todos olham “os lírios do campo”...mas tu não estás nos campos, tu estás nas pedras, nas rochas...quem olhará pra ti? Tu, efêmero vegetal das pedras...


“Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda.
Sabendo que eras nuvem, depus a minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil,
fiquei sem poder chorar quando caí...”

terça-feira, novembro 08, 2005

Efêmero

"A morte nos ensina a transitoriedade de todas as coisas" (Leo Buscaglia)

"É uma infâmia nascer para morrer não se sabe quando nem onde. "(Clarice Lispector)

"Se a morte fosse um bem, os deuses não seriam imortais." (Safo de Lesbos)

"Morrer é recomeçar. Porque diante das infindáveis morte que recomeçamos. "(Lúcio Cardoso)

"O que nos entristece não é o fato de deixarmos a vida e, sim, o de deixarmos o que dá valor à vida. Quando o ser amado é nossa vida, que diferença haverá entre vivermos juntos ou morrermos juntos? "(Raymond Radiguet)

"Quando morremos, deixamos atrás de nós tudo o que possuímos e levamos tudo o que somos."

"Morremos um pouco cada vez que perdemos um ente querido." (Publilius Syrius)

"O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte" (Friedrich Nietzsche)

"Você possui apenas aquilo que não perderá com a morte; tudo o mais é ilusão"


Quando percebemos que nossa dor é uma gota num oceano de dor...
Quando percebemos que não há dor maior do que a perda de um amor de verdade...
De um amor que nos amou infinitamente, que cuidou, amou...
Vai-se...fica a dor da saudade... a saudade de nunca mais ver, sentir, cheirar o que nos amou...
Repito, NOS AMOU...
Não experienciei tal dor, a dor de ver ir um amor carnal, erótico...
Como será que fica a vida depois disto?
Se imagino tal sofrimento...se observo de longe a história de amor dos meus amigos, e já me percebo em lágrimas, como será estar dentro desta história?
Imagino, tento....mas jamais chegarei à realidade...
Ficou o ensinamento....minha dor não é nada frente a mutabilidade da vida...
Minha dor não é nada parecido com a dor de quem perde a quem se amou e foi amado...
Documento aqui minha tristeza....meu desalento...inconformação...
Transformam-se em cinzas as lembranças?O que se deve fazer com elas, Deus??
Deus o que faço para amenizar a dor de minha amiga?
O que faço com as recordações?Com as gargalhadas "a três"? Com a imagem do casal mais harmonioso que já vi?
Deixe minhas dores então...sei que são "fúteis"...
Guarde minha amiga....olhe por ela...dei-me forças para ajudá-la...
Deixe que as cinzas dele retornem então....e adubem as rosas, as uvas, que ele tanto admirava...
Mas espere...tenho só uma pergunta a lhe fazer Deus: Por quê?

domingo, novembro 06, 2005

A Suplicante


Compara-se com Camile Claudel.... Lembra de sua historia de sofrimento ao lado do “grande” Rodin...entende e se sente a própria escultura “a suplicante”...tantas vezes tinha tentando entender por que camile, mulher tão inteligente e habilidosa, havia se sacrificado tanto por Rodin...Ela sempre fora romântica, mas ainda assim jamais achou que um dia “suplicaria” amor a alguém...
Suplicante....Assim se sentia naquele momento...Desligou o telefone, sentiu-se a mais humilhada, a mais.....suplicante....Suspira, afoga-se em desespero, lágrimas, sente uma dor que lhe invade a alma; sim, ele havia mutilado sua alma... Ofensas, injúrias, pré-julgamentos... Onde estava o homem que ela amava? Não poderia ser aquele homem que falava ao seu ouvido palavras cruéis... Não, ela queria de volta o homem que olhava em seus olhos horas a fio... O homem que observava todos os seus passos... aquele que a amava e que a fazia sentir-se a mulher mais linda e mais querida do mundo...
Olha-se no espelho...e lá está ela agora...no chão..apática...humilhada... ele havia feito com que ela percebesse que era capaz de amar e de fazer o imprevisível por amor....Hoje ela percebia que além disto ele havia feito também com que ela esbravejasse, com que perdesse sua dignidade, que se humilhasse, que implorasse...que se sentisse a mais tola para todos os amigos dele...Humilhação...vergonha de si mesma... vergonha de suplicar atenção, suplicar o amor dele... Afasta-se do espelho, ela não era digna de ser olhada com respeito e orgulho, como antes o fazia... Era um ser desprezível...vil...infame... Havia encontrado o sentido de todas as esculturas de Camile Claudel....naquele momento sentiu-se capaz de esculpir sua dor, se isso lhe fosse possível.... Tateia o invisível, indivisível, o ambígua, a escuridão em que sempre esteve... a solidão perversa do amor...O Amor...perverso, inútil, cruel...era assim que ela o via agora...Sentia-se pagando um preço altíssimo por amar...Por que ela merecia ser interpretada friamente por ele? Era tão difícil perceber o sentido de suas atitudes? Tinha orgulho de sua coragem, agora vergonha de suas súplicas... Sim, não conseguia esquecer, ele fora capaz de fazê-la suplicar para vê-lo por alguns momentos... ”Por que??” refletia...”por que recebo isto em troca do amor que o dediquei?”...Chora novamente... as lágrimas escorriam no seu rosto como se queimassem sua pele... Andava pela casa onde tinha vivido os melhores momentos de sua vida...sim, ao lado dele...Deitada, lembrava das longas conversas...lembrava do queixo, da boca, do sorriso, dos olhos...da respiração dele em seu colo...dos abraços infinitos... de sua imagem quando o olhava da sacada.... “onde está você?”, pergunta-se... “você que me jurou amor eterno, jurou caminhar ao meu lado....” Eram as lembranças que lhe invadiam a mente...
Deita novamente...soluça de tantas dor...recorda que certa vez havia lhe dito que ele se arrependeria por tê-la abandonado... Percebe que estava errada....Sua ingenuidade era tanta que não só foi incapaz de perceber o quanto os que o rodeavam a difamavam, como também não fora capaz de perceber que ele não a amava...e como tal, jamais ele sentiria remorso ou arrependimento por deixa-la... “é bom viver, a vida continua” Foram as ultimas palavras dele frente a sua dor infinita... Agora ela tinha certeza de que o amor era ilusório, o amor que ela construiu na figura dele, do “anjo caído”, era ilusão... o que chamariam de um desejo insistente de encontrar este amor, projetou-se nele.. Sim, este amor que ela citou em tantos versos, tantos poemas...eram meras projeções...Mas só ela, somente ela, sabia do amor que tinha vivida....a solidão do amor...

“Você, que tanto tempo faz
Você que eu não conheço mais
Você, que um dia eu amei demais
Você, que ontem me sufocou
De amor e de felicidade
Hoje me sufoca de saudade
Você, que já não diz pra mim as coisas que preciso ouvir
Você, que até hoje eu não esqueci
Você que, eu tento me enganar dizendo que tudo passou
Na realidade, aqui em mim você ficou...
Você que eu não encontro mais
Os beijos que não lhe dou
Fui tanto pra você e hoje nada sou
Você que eu tento me enganar dizendo que tudo passou
Na realidade aqui em mim você ficou
Você que eu não encontro mais
Os beijos que já não lhe dou
Fui tanto pra você e hoje nada sou.”